O rompimento da barragem de Brumadinho resultou em 270 vítimas e poluiu de morte mais de 300 quilômetros do rio Paraopeba. A tragédia suscitou um debate sobre a segurança na histórica atividade mineradora no Brasil.
Por Kevin Damasio | Fotos de Victor Moriyama
National Geographic Brasil, julho de 2019
“CORRE!”
Marco Antônio Ribeiro assustou-se com o grito. O mineiro de 39 anos acabara de almoçar no refeitório da Mina Córrego do Feijão. Sentou-se em um quiosque e estava no celular. Então, viu o colega descer, aos berros, até a área administrativa do empreendimento da Vale em Brumadinho. Às 12 horas e 38 minutos de 25 de janeiro de 2019, a Barragem 1 rompeu-se e liberou 11,74 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro.
Marco estava a 1 quilômetro da estrutura. Escutou um ruído de mar, virou-se e ficou paralisado ao avistar uma avalanche de lama e poeira de “dois postes e meio de altura” engolir as árvores. A onda de rejeitos carregava tudo que encontrava pelo caminho – troncos, galpões, estruturas, pessoas. “O barulho me fazia correr”, me conta ele, duas semanas depois.
Na corrida em direção a uma portaria mais abaixo, Marco caiu e se levantou rapidamente. Alguns metros adiante, perdeu o equilíbrio de novo e desabou. Pensou que morreria. “Esperava sentir a dor da lama em cima de mim”, lembra. Um jovem funcionário também caíra em um buraco próximo, mas conseguiu retomar a corrida. Já o amigo com quem havia almoçado, Wilson José da Silva, não teve a mesma sorte. Marco lembra-se de vê-lo tentando se levantar, mas Wilson desaminou, pôs a mão na cabeça e se deitou. Foi engolido pela lama instantes depois.
“Corre, uma caminhonete!”, escutou Marco, assim que se reergueu. Foi um dos acasos daquela tarde que ele, evangélico devoto, classifica como milagre. O motorista já estava em um local seguro, mas desceu para o restaurante atrás do filho de um colega. Ele acelerava para fugir do mar de lama. Pelo caminho encontrou Marco, que, em questão de segundos, se apressou, pulou na caçamba e só conseguiu se agarrar na perna de um dos cinco que lá estavam. Outros seis se espremiam na parte interna.
Marco ficou com as pernas para fora. Temia quebrá-las ou cair a cada pulo do veículo em alta velocidade. Em uma parada de meio minuto, o mineiro pulou para a caçamba e se ajeitou. E conseguiu digerir um pouco do que acontecia. “A lama foi dando paradas. Freou na segunda ‘lagoa’, como chamamos a barragem, mas logo continuou com mais velocidade. Aí chegou na outra estrutura, deu mais uma agarrada e depois acelerou por causa da água”, conta ele, em um final de tarde no bairro Tejuco. A onda que descia reto alcançava 80 quilômetros por hora, calcula o mineiro. A parte que corria para os lados, na direção dele, vinha um pouco mais lenta. “Se viesse na mesma velocidade, eu não estaria aqui, com você.”
Uma vez em segurança em um trecho mais elevado, os sobreviventes ligaram para o Corpo de Bombeiros. Marco telefonou aos familiares e ao pastor da igreja batista que frequenta. Em uma oração, pediu a Deus discernimento, sabedoria e tranquilidade. Na sequência, assumiu a direção da caminhonete e partiu em busca de outros sobreviventes. “Havia o perigo da outra barragem do lado estourar, mas fui no risco. O pessoal estava apavorado, em pânico mesmo.”
No final, o grupo de 80 a 100 pessoas encontrou refúgio em uma área conhecida como Altar da Santinha, dentro da Vale. Ilhados pela lama, resignaram-se. Só restava aguardar os bombeiros.
BRUMADINHO É UM MUNICÍPIO de 40 mil habitantes no Vale do Paraopeba, região ocupada por bandeirantes no final do século 17. Cortada pelo Rio Paraopeba, a cidade e suas vizinhas abrigam mananciais que abastecem a Grande Belo Horizonte, em exuberantes serras de Mata Atlântica salpicadas por grandes empreendimentos de mineração. O principal deles era a Mina Córrego do Feijão: a Vale extraía dali 7% da pro- dução total da empresa. Em 2018, a prefeitura arrecadou quase 35,7 milhões de reais das mineradoras pela chamada Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais (CFEM).
“Entrar na Vale era um sonho”, conta Marco Antônio Ribeiro. Foram sete anos de tentativas. Ele sempre passava nas entrevistas, mas, no exame médico, era reprovado, devido a uma deficiência no ouvido direito. Em 2010, enfim conseguiu o cargo de operador mantenedor mecânico. A empresa ainda lhe pagou um curso de mineração e financia sua graduação em logística em Betim, cidade vizinha a Brumadinho.
O trabalho de Marco envolvia trafegar por todo o complexo de acordo com a demanda – na mina, na barragem, na linha férrea. Aquela manhã de 25 de janeiro era como as outras. Chegara às 7h30. Participara da reunião que discute o serviço e a segurança. Enquanto aguardava um colega para o trabalho do dia na linha férrea, discutia a palavra de Deus com os colegas Wilson e Rangel do Carmo Januário. Na hora do almoço, eles desceram para o restaurante. Mas Rangel precisou resolver um imprevisto e adiou a refeição. Quando a barragem cedeu, ele não teve tempo de sair do refeitório. “Hoje, penso que a mineração tem que ser mais segura”, reflete Marco, ansioso para voltar ao trabalho.
Nos anos 1980, as jazidas de Minas Gerais abrigavam um minério de alto teor de ferro, em torno de 67%, explica Roberto Galéry, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em processamento mineral. O teor exigido hoje é de 62%. Entre 1980 e 1985, o método de produção se resumia a fragmentar a rocha, classificá-la por tamanho e comercializá-la. Conforme a exploração avançava, “os teores do minério em Minas baixaram muito; então, veio a necessidade do beneficiamento com água. Assim surgiram os rejeitos”. O Departamento de Minas da UFMG estima que 11 bilhões de toneladas de rejeitos de mineração serão produzidas entre 2010 e 2030. O que fazer com tudo isso?
Há seis anos, a universidade estuda o reaproveitamento dessa lama em coprodutos, sobretudo voltados à construção civil. A lama passa por um processo de espessamento e perde o excesso de água através da drenagem e do uso de filtros-prensa. “Uma vez secos, fabricamos telhas, tijolos”, conta Galéry. “Desenvolvemos ainda um bloco poroso que pode ser usado em pisos e asfaltos.” Os pesquisadores também construíram duas casas com o material, que correspondeu bem e, segundo Galéry, poderia ser usado para edifícios de até três andares. “Apesar de muitas ideias, precisamos de mais suporte financeiro para desenvolver novas pesquisas, pois o problema dos rejeitos é gigantesco.”
Em uma reunião técnica sobre o rompimento da barragem na Câmara Municipal, em 8 de fevereiro, o prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo Barcelos, classificou o que aconteceu como “um crime. Mas a Vale é uma doença de que nós pre-cisamos, infelizmente. Hoje, 65% dos royalties do município advêm da empresa”. Barcelos pediu a extinção das barragens de rejeito às autoridades presentes: “Tem que minerar a seco e com segurança. É isso que Brumadinho vai exigir”.
Em Brumadinho há 29 barragens de minério, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM). Três delas têm alteamento a montante, o mesmo tipo da que se rompeu. A Vale se comprometeu a pagar o imposto CFEM por dois anos, mesmo com a Mina Córrego do Feijão paralisada. “Depois, se a empresa não quiser operar a seco, a cidade acaba. Então, temos que trazer indústrias, diversificar a nossa economia”, diz o prefeito.
Tal colapso econômico ocorreu em outra cidade mineira, Mariana, onde a barragem de Fundão, da Samarco Mineração, se rompeu em 5 de novembro de 2015. Por volta de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério mataram 19 pessoas, soterraram os subdistritos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e parte de Gesteira e devastaram 1 469 hectares de vegetação. Depois, a lama percorreu 663,2 quilômetros de cursos d’água até desaguar no mar em Regência, no Espírito Santo. Os impactos foram sentidos 250 quilômetros ao norte da foz do Rio Doce – pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro encontraram metais pesados em corais do parque de Abrolhos, na Bahia.
Em 25 de março de 2019, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, decretou estado de calamidade financeira quando a Vale anunciou a paralisação da Mina da Alegria. A cidade teria uma queda de 92 milhões de reais em sua receita anual. Isso resultaria no corte de custos em saúde, educação e desenvolvimento social, demissão de 700 funcionários e suspensão de serviços que iam de cirurgias a poda e limpeza urbana.
As cidades tornaram-se dependentes política e economicamente das mineradoras, observa Bruno Milanez, professor de engenharia de pro- dução e geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Enquanto lucram com as jazidas – às vezes, valores maiores que as receitas dos municípios –, as empresas financiam obras em hospitais, escolas, quadras de esporte. “Essas cidades não conseguiram se desvincular da dependência mineral”, analisa. “Apesar de as pessoas saberem do risco, elas se conformam e confiam. Não têm para onde fugir. Trabalhar nas mineradoras também gera status. Após Mariana, parece que a coisa começa a mudar de figura.”

DEPOIS DE DEVASTAR A ÁREA administrativa da Vale, a lama correu 9 quilômetros do Ribeirão Ferro-Carvão. Às 15h50, alcançou o Paraopeba, que serpenteia por 510 quilômetros até desa- guar no São Francisco. Tão logo a barragem se rompeu, um voluntário alertou o cacique Hayô: a enxurrada de rejeitos alcançaria o rio na altura da aldeia Naõ Xohã, dos pataxós hã-hã-hãe, no município de São Joaquim de Bicas.
O cacique Hayô observa o Rio Paraopeba “cor de sangue”, outrora uma água tão clara que era possível ver as “pedras negras em seu leito”, diz. Para os índios, o rio era mais que apenas um lugar para tomar banho, lavar louça e pescar – era como um membro da família, explica Hayô, eleito cacique no final de 2018. A aldeia é composta por 86 pessoas de 27 famílias e se divide em 12 malocas, a 50 metros das margens do rio. Os pataxós viviam da pesca e de plantações, como mandioca e milho. Nos fins de semana, reuniam-se às margens do Paraopeba em rituais de agradecimento às “irmãs-água”. Agora, os índios contam com doações de água. Todos os dias, representantes da Vale levam 40 quilos de carne à aldeia. “Mas nós, pataxós, não gostamos de viver de doação. Vamos lutar para impedir que a mineradora faça essa tragédia em outros rios”, ressalta o cacique.
Os rejeitos mataram ao menos 305 quilômetros do Rio Paraopeba, aponta um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica. “É lama pura”, diz Malu Ribeiro, especialista em recursos hídricos da ONG. A ambientalista espantava-se com a medição que acabara de fazer, 30 quilômetros após as membranas instaladas pela Vale em Pará de Minas para conter os rejeitos: a turbidez estava em 2 800 UNT (unidade nefelométrica de turbidez), 28 vezes acima do permitido por lei.
Contaminantes físicos, químicos e biológicos – material em decomposição de corpos, animais e plantas – não estão sendo retidos pelas membranas. Esses rejeitos finos passam pelas barragens rio abaixo, diz Malu, enquanto observa o caudaloso Paraopeba do alto de um barranco, em Caetanópolis. “A luz do sol teria que entrar na água em um raio linear. Mas, quando encontra os fragmentos de sedimento, ela se espalha. A fauna não realiza a fotossíntese, o que diminui o oxigênio e acaba com a vida aquática.”
Assim que souberam da tragédia, Malu Ribeiro, Marcelo Naufal e Tiago Felix, da SOS Mata Atlântica, e Marta Marcondes, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, embarcaram para a cidade mineira. Depararam com uma realidade tão desoladora quanto a que vivenciaram três anos antes, no Rio Doce. Eles mapearam 22 dois pontos do Córrego do Feijão ao Reservatório de Retiro Baixo, em Felixlândia. Em 31 de janeiro, partiram em uma expedição rio acima que durou até 9 de fevereiro.
A água em 10 pontos foi considerada ruim e em 12 estava péssima, conforme os parâmetros do Índice de Qualidade de Água (IQA). Todas as áreas monitoradas apresentaram condições impróprias para consumo humano, irrigação de plantações e dessedentação de animais, devido à concentração de metais pesados bem acima do nível permitido por lei (cobre, manganês, ferro e cromo). O governo de Minas Gerais proibiu o uso de água do Rio Paraopeba para tais fins.

NOS ÚLTIMOS ANOS, Brumadinho tornou-se conhecida mundo afora por abrigar o maior museu a céu aberto do mundo, o Inhotim, que impulsionou o turismo local e gerou uma nova perspectiva profissional para os brumadinhenses. É o caso de Eduarda Ribeiro, de 20 anos, que, desde 2016, dirige os carrinhos para turistas menos dispostos a explorar a pé o imenso espaço. Sua obra favorita é Elevazione, uma árvore de 4 toneladas feita de bronze pelo italiano Giuseppe Penone. Assim como outros 40 funcionários, Eduarda perdeu parentes na tragédia do Córrego do Feijão – quatro primos. O instituto não foi atingido pela lama; porém, permaneceu fechado, em luto, até 9 de fevereiro.
Degradado pela atividade mineral e agropecuária, o terreno do Instituto Inhotim, antes de ser aberto ao público, em 2006, passou por uma recuperação ambiental que garante ao museu a harmonia entre icônicas obras de arte ao ar livre e a biodiversidade da Mata Atlântica e do Cerrado – modelo que pode ser exemplo para as áreas devastadas agora. Mas é preciso aguardar o fim das buscas “para iniciar um planejamento com a mineradora e a prefeitura”, diz Lucas Sigefredo, diretor do jardim botânico do Inhotim.
A primeira medida de reparo da mineradora foram doações: 100 000 reais para 269 famílias que perderam entes na tragédia, 50 000 a 91 residentes da zona de altossalvamento e 15 000 a 68 pessoas que tiveram seu comércio impactado. O promotor André Sperling acredita que a ação imediata da Justiça contribuiu para uma resposta mais célere aos atingidos. “Com a repetição do desastre, impedimos certas atitudes que foram tomadas em Mariana”, observa Sperling, da força-tarefa do Ministério Público de Minas Gerais. Na visão dele, acordos da Vale e da BHP Billiton (donas da Samarco) com os governos federal e estaduais, dias após o colapso em Mariana, impediram respostas mais justas aos atingidos. A Samarco criou a Fundação Renova, que, para o promotor, “começou a atuar em campo com padrões inadequados, sem garantia de direitos humanos. Fez programas de reparação de danos sem conexão com as necessidades reais das pessoas atingidas”. Todos os impactados pela barragem de Fundão só passaram a participar das decisões a partir de um novo Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), firmado em março de 2016.
Em 12 de março, o MP apresentou um balanço das primeiras conquistas em Brumadinho. O bloqueio financeiro subiu de 1 bilhão de reais para 5 bilhões. Uma liminar garantiu “diversas medidas emergenciais como abrigamento, transporte, alimentação, fornecimento de água e disponibilização de equipe multidisciplinar para atendimento psicossocial das vítimas”.
E, após três audiências, aconteceu um acordo inédito em termos de garantia de direitos dos atingidos, afirma Sperling. A Vale terá de realizar o pagamento emergencial a todos os munícipes de Brumadinho e aos moradores de outras cidades que vivem a até 1 quilômetro das margens do Paraopeba, no trecho afetado pelos rejeitos de minério: um salário mínimo mensal aos adultos, meio aos adolescentes e um quarto às crianças. “Em torno de 100 mil pessoas têm direito ao auxílio. No caso de Mariana, apenas 10 mil pessoas recebem esse tipo de pagamento”, compara o promotor. O acordo ainda garante o pagamento do valor equivalente a uma cesta básica (cerca de 500 reais) aos moradores do Córrego do Feijão e do Parque da Cachoeira, além de assessoria técnica independente às pessoas atingidas.
Ademais, um projeto de lei (PL) criado após a tragédia em Mariana, finalmente, foi aprovado, sem vetos, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Conhecido como Mar de Lama Nunca Mais, o PL proíbe a construção e a ampliação das estruturas a montante e determina a desativação das existentes; impede a concessão para instalar, ampliar ou altear barragens a menos de 25 quilômetros de distância de comunidades; e exige mais rigor no licenciamento e na fiscalização.
Os critérios mais rígidos já tiveram um impacto inicial. Na fase de renovação dos laudos, em abril, a ANM decidiu interditar 36 barragens em Minas Gerais – 18 são da Vale. Diante do alto risco de rompimento das estruturas, foram evacuados moradores de comunidades mineiras em Barão de Cocais, Itatiaiuçu, Macacos, Nova Lima e Ouro Preto. O MP recomendou que o mesmo acontecesse em Congonhas. O pânico tomou conta, sobretudo, dos moradores de Barão do Cocais, diante do iminente rompimento de um talude na barragem da Mina Gongo Soco – não ocorrido até a conclusão desta reportagem.

ÀS 14 HORAS DE 25 DE JANEIRO, teve início o salvamento de Marco Antônio Ribeiro e de outras dezenas de sobreviventes ilhados no Altar da Santinha. A equipe do tenente Warley de Paula Vieira Barbosa, de 35 anos, fazia um sobrevoo em helicóptero quando avistou o grupo. Depois os bombeiros abriram um acesso no meio da mata até a estrada para o resgate.
“Em Mariana, foi diferente”, explica Warley, enquanto passamos pela estrada que corta a Mina Córrego do Feijão, rumo à Instalação de Tratamento de Minério (ITM). De fato, na cidade histórica, o dano ambiental foi o mais grave já registrado no Brasil. “Mas, em Brumadinho, o número de vítimas é muito maior”, diz ele.
No entorno da ITM, caminhamos sobre montes de minério de ferro que se formaram com a avalanche de lama. As rochas eram processadas dentro do enorme contêiner e seguiam para os trens de carga 250 metros adiante, via esteiras. A lama atingiu com força a parte da frente da ITM, mas a estrutura permaneceu em pé. Os sinais de fuga estão por toda parte. Os minérios fragmentados ainda permanecem nas esteiras paralisadas. Muitos funcionários que ali estavam conseguiram escapar com vida pelos corredores suspensos e degraus estreitos, exceto por uma vítima. No vestiário, armários abertos guardam os pertences dos que bateram em disparada para uma rota de fuga próxima. Dentro do escritório de gerência da Vale, a lama tinge mesas, computadores, teclados, impressoras, capacetes de funcionários. Escorre abaixo de um ícone de Jesus Cristo pendurado na parede. Em uma lousa branca estão escritas ações prioritárias. A primeira, para 9 de fevereiro: “Realizar levantamento de todos os vazamentos nas usinas”.
Do lado de fora, operadores de escavadeira e bombeiros de Minas, Maranhão e Paraná trabalham sem parar. As buscas só terminarão quando todas as vítimas forem encontradas ou a partir do momento em que o estágio de decomposição dos corpos impossibilitar a identificação.
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