Não há mais divisão entre os estilos de vida do surfista e do skatista. Tudo está interligado, unido e aliado à arte, à música e à consciência ambiental, o que resulta em um cenário autêntico. Não estamos na Califórnia… Isso é Florianópolis
Por Kevin Damasio
Revista Hardcore | Maio de 2014 | Edição de 25 anos
Já passa da 1 hora da tarde de sábado, 5 de abril, e os fortes raios de sol esquentam o bowl da casa do skatista Pedro Barros, 19 anos e tetracampeão mundial da modalidade. A primeira bateria de legends do Skate Generation está prestes a começar, e o californiano Pat Ngoho aguarda sua estreia na competição, que vale como etapa do Mundial de Bowl.
Enquanto Ngoho aguarda a vez de andar na pista, converso com ele sobre as semelhanças do cenário de Florianópolis com o que vivencia na Califórnia, sob forte influência da geração dos anos 70. Na época, a região vivia um grande período de seca e falta de ondas, e os Z-Boys, liderados pelos surfistas Jay Adams e Tony Alva, invadiam casas com piscinas vazias para andar de skate. A atitude deles não só foi responsável pela evolução do esporte, como também pela criação de um estilo de vida. E é justamente essa forma de viver que Ngoho identifica em Floripa, uma cena na qual não há divisão entre surfistas e skatistas.
Durante a conversa, Ngoho observa Greyson Fletcher, seu conterrâneo, abusar com originalidade dos grinds e frontside ollies. Greyson é filho de Christian, sobrinho de Nathan e neto de Herbie Fletcher, todos personagens que escreveram seus nomes na história do surf. A família Fletcher é um grande exemplo de como os dois esportes podem andar juntos. E Ngoho sabe muito bem da importância dessa relação: “Venho de uma geração em que o skate só começou por conta do surf. Então nos relacionamos diretamente com a vibe, o flow e todos os ideais por trás dessa união”.
Ngoho, hoje com 50 anos, não é apenas skatista. Formou-se em Artes, é pintor e considera pegar onda algo fundamental. Ele acompanhou de perto toda a evolução do skate – o aumento da performance, os campeonatos, o reconhecimento mundial e, por consequência, o aquecimento da indústria. Contudo, o californiano enxerga, mesmo com a dimensão do evento em que está a minutos de estrear, a originalidade da cena de Floripa neste “grande encontro de quintal”. E esse foi o principal objetivo de André Barros, o dono da casa e curador das quatro edições do Skate Generation: “O intuito é ser autêntico mesmo. Passar o que a gente é para o evento. Mesmo com toda a estrutura, ele não deixou de ser core”.
Em Florianópolis, o skate em bowl surgiu de forma similar à maneira da Califórnia dos anos 70. Na verdade, ressurgiu é a palavra mais adequada para descrever tal revolução, que se iniciou na Praia Mole, com o half pipe em 1997, e consolidou-se no Rio Tavares nos anos 2000, com o bowl da pousada Hi Adventure. Novamente, as mudanças passaram do mar para o concreto. Do surf para o skate, para as telas e desenhos, para a música, para o vídeo e filmes. E tudo isso fortaleceu Florianópolis como uma cidade original, criativa e experimental.
– Pat Ngoho:
“Venho de uma geração em que o skate só começou por conta do surf. Então nos relacionamos diretamente com a vibe, o flow e todos os ideais por trás dessa união.”
GÊNESIS NO OUTSIDE
Um mar grande e clássico contemplou a primeira competição internacional que Florianópolis recebeu, o Hang Loose Pro de 1986, etapa do WCT. O campeonato manteve a boa organização dos festivais Olympikus (1982 a 84) e OP Pro (1985), mas dessa vez foi diferente. Uma multidão lotava a Praia da Joaquina para acompanhar o evento. “O surf proporcionou uma visibilidade da cidade jamais vista. Florianópolis se tornou Floripa”, observa o catarinense Maurio Borges.
Com a grande exposição na mídia, a cidade atraiu a atenção dos jovens brasileiros. Na ilha, nos moldes ainda roots, encontrava-se a possibilidade de abandonar o caos da cidade grande em busca de uma vida simples em um local paradisíaco. Baixo custo de vida, praias e mulheres belíssimas e grande variedade de ondas, constantes e com pouco crowd. Esses eram os ingredientes que integravam a magia da ilha nos anos 80. “Todos queriam viver aqui. Todo mundo queria surfar na Joaca, na Mole, pegar as longas direitas no Campeche, surfar sem crowd na Lagoinha ou em Naufragados”, recorda Maurio, 47 anos, surf repórter da rádio Jovem Pan e coordenador da rádio web S365[O]Mundo.
Floripa entrava de vez para o cenário internacional. As condições clássicas que quebraram na competição deixaram a ilha com uma ótima impressão e a etapa tornou-se uma das mais aguardadas do Circuito Mundial. Além das ondas, segundo Maurio, “festas e diversão” eram outras razões para tal expectativa. Entre os principais nomes do surf mundial que competiram na Joaca, estão Shaun Tomson, Mark Occhilupo, o campeão de 1986 Dave Macaulay e o bicampeão Tom Carroll (1987 e 1988).
Toda essa repercussão dos festivais, somada às performances de prós como David Husadel, Bita Pereira, Roberto Lima e Luiz Neguinho, no final dos anos 80, e Guga Arruda, Teco e Neco Padaratz nos anos 90, transformou o jeito pelo qual o surfista era visto. Para Luciano Burin, diretor do documentário Pegadas Salgadas, Floripa representa um dos primeiros lugares onde o surf foi aceito com naturalidade, como algo profissional e como atividade saudável. Muito diferente daquele perfil que estigmatizava o surfista desde os anos 70, do hippie, maconheiro e vagabundo. “Uma vez que muita gente veio para cá para viver em torno do surf”, explica Burin, “ser surfista tornou-se uma coisa normal. Então consolidou a imagem de ser um esporte que gera emprego, lazer e saúde”.
O caráter profissional do surf ganhou ainda mais força com a Federação Catarinense de Surf, com destaque para a gestão de uma década de Xandi Fontes (hoje, organizador do WCT Rio) e Jordão Bailo. “O Xandi conseguiu unificar todas as associações em busca de um bem comum”, conta Maurio. Na visão de Marcelo Cathcart, 30 anos e local do Riozinho, o esporte cresceu ainda mais com a estrutura oferecida pela federação: “Era um lance organizado. Eles faziam acontecer”.
Foi nessa época de transformações que Guga Arruda, ícone do surf da ilha, conheceu a onda do bairro Rio Tavares. “Eu era competidor, ia para o Hawaii, para a Califórnia, mas não tinha surfado aqui”, diz, apontando para o horizonte em frente a sua casa, onde, atrás das dunas, encontra-se o beachbreak. Guga está no quintal dos fundos de sua casa, de frente para o mar, onde mora há 15 anos, mas veio pela primeira vez 25 anos atrás, quando conheceu o terreno que o pai acabara de comprar. “Eu falei: Pai, isso aqui é o meio da Joaca!”. Ele correu para o carro, pegou a prancha e fez a primeira sessão no Pico da Cruz. “Descobri onde era a trilha, olhei aquele marzão ali… Nenhum surfista.”
A rotina de Guga era acordar e olhar o mar na frente de casa. Se o banco estivesse bom, surfava no Pico da Cruz. “Aqui a areia movimenta muito, então raramente têm fundos maravilhosos”. Neste verão, rolou um fundo perfeito de point por cerca de um mês e meio. Se a bancada estiver funda, o nativo segue em direção a outros picos, como Joaca, Campeche ou Matadeiro. Guga olha para o horizonte mais uma vez. “Agora o fundo está arrumando”, diz. “Está bem raso, até tubular de novo. Só que ainda não colou na praia. O mágico é a hora em que essa areia cola na praia e faz uma bancada só.” Olhando em direção ao mar, ao lado direito da casa de Guga, uma série de pastos estende-se pelo horizonte. “Nosso bairro era assim.”
O Campeche, ao lado do Rio Tavares, possuía os mesmos ares nos anos 90. “Era um clima meio sítio”, classifica Cathcart. No Riozinho e no Campeche, apenas os moradores aproveitavam os swells. “A gente pegava muita onda perfeita sozinho. Hoje em dia já é diferente. Mudou bastante”, reflete Cathcart. Se antes as sessões de surf no Riozinho contavam com 15 pessoas, atualmente as boas ondulações são divididas entre 100 surfistas.
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MIGRANTES EM PESO
Certo dia de 1993, enquanto ia ao trabalho de ônibus em São Paulo, o skatista Oscar “Mad” Edinger encontrou-se por acaso com Léo Kakinho, grande nome do skate em bowl e banks da década de 80. Léo avisou sobre a importante decisão que havia tomado: mudar-se para Florianópolis. “Buscava um lugar legal para surfar e fazer uma pista para andar com os amigos, além de tentar estudar na Universidade Federal”, conta Kakinho, 42 anos.
Léo despontou no skate desde pequeno. No entanto, no início dos anos 90 o esporte estava em crise. Muitos atletas perdiam os patrocínios e o investimento em campeonatos diminuíra, reflexo de um dos períodos mais conturbados da política nacional. Nesse contexto, a modalidade street ganhava força e consolidava um novo perfil do skatista, que, aos poucos, distanciava-se do estilo do surfista.
Contudo, como a cena do skate na ilha era bem pequena, as referências de Léo Kakinho para o esporte ficaram por cinco anos no anonimato. Ele era apenas o Léo que surfava. E foi no outside que conheceu o brasiliense André Barros, com quem começaria um movimento que revolucionou a cena de surf e de skate de Floripa. Os dois eram surfistas do interior, sedentos por praia. Léo morava na Fortaleza da Barra e André, no Campeche. Eles acordavam todos os dias às 5 da manhã e iam em jejum para a sessão.
André saiu de Brasília quando a empresa em que trabalhava o transferiu para Floripa, em 1994. Seu parceiro de trabalho, Rafael Bandarra, seguiu o mesmo caminho um ano depois, mudando-se para o Campeche. Depois, Léo e Rafael dividiram uma casa na Praia Mole, na época uma onda de haoles. Com pouco crowd e muitas ondas de qualidade, André, Léo e Rafael não tinham problemas com o localismo. Apesar de existir, havia certa tolerância dos nativos.
Em 1997, os primeiros terrenos no bairro do Rio Tavares foram postos a venda. Não existia nada no lugar. Rafael comprou o primeiro lote e construiu sua casa. Léo e André fizeram o mesmo na sequência. Rafael lembra que, no dia em que comprou o terreno, “rolava um swell de um metro e meio, com três picos de onda quebrando para os dois lados”.
O Rio Tavares mudou na virada para os anos 2000. A especulação imobiliária ganhou força e pessoas de outros estados arrendaram os terrenos disponíveis. Conforme crescia o número de casas e prédios, aumentava também o crowd. Com isso, o localismo atingiu outro nível. “Todo mundo que chegou na ilha nessa época encontrou a nativada bem possessiva e um tanto quanto melindrosa em relação aos visitantes e ao crescimento”, diz Guga. Segundo Cathcart, se chegasse alguém de fora que ninguém conhecia, os locais rabeavam, brigavam, mandavam sair da água. Quando perguntado sobre um episódio de violência no Riozinho que mais lhe marcou, ele é categórico: “Foram tantas brigas que fica até difícil te falar uma. Mas isso acontece em todo lugar”.
A especulação imobiliária ganhou força e pessoas de outros estados arrendaram os terrenos disponíveis. Conforme crescia o número de casas e prédios, aumentava também o crowd. Com isso, o localismo atingiu outro nível.
Binho Nunes sentiu os efeitos do localismo no Riozinho. Só de chegar na areia para olhar o mar, já ouvia gritos de “Ei, seus haoles”. “É uma parada que não precisa rolar. Nesses picos onde tem tubo, onda pesada, não dá para vacilar. Então não é qualquer haolezão que está lá”, argumenta. Nem mesmo Fabio Gouveia, que mudou-se para Floripa em 2003, escapou da hostilidade de alguns nativos.
Binho morava no Hawaii quando sua mulher o convenceu a voltar para o litoral brasileiro. Após tentativa frustrada de morar em Maresias, o casal chegou à “Ilha da Magia” na virada do milênio. Depois de passagens pela Barra da Lagoa e pelo Rio Vermelho, mudaram-se para o Rio Tavares. Uma casa de madeira, de dois andares, cercada por um grande quintal arborizado, a alguns minutos de caminhada do Pico da Cruz. Binho não gosta de competição, seja ela em campeonatos ou em uma sessão de freesurf. E esse é um dos argumentos que ele usa para conseguir surfar no Riozinho, “mas a parada ficou agressiva”.
A postura nativa no outside, na visão de Marcelo Cathcart, começou a mudar por volta de 2005. “Hoje em dia, qualquer um vem e pega onda. Às vezes pode ganhar um ‘xingão’ aqui, outro ali, mas não é como antes”, acredita. Mesmo assim, ele afirma que ainda há uma minoria resistente aos não-nativos. Antigamente, na Joaca, agressões físicas e verbais eram constantes contra pessoas de fora. Hoje, de acordo com o local Tiago Bianchini, para pegar onda “basta conhecer o pico, respeitar e não incomodar os nativos”. Para Maurio Borges, se chegar cedo, é possível surfar em outras praias além da Joaquina, do Campeche e do Matadeiro, onde fica o “localismo forte”.
Mesmo assim, André Barros só sentiu que adquiriu o respeito dos nativos com a troca de geração. Ou seja, quando as crianças locais que ele incentivava a praticar esporte e levava para surfar cresceram. “Eles assumiram outra postura”, afirma. Guilherme Tranquilli, por exemplo, é um dos que André viu crescer. Ainda na infância, o pai dele tocava bateria, surfava e andava de skate, e convivia com André, Léo e Binho.
Já Guga Arruda enxerga a cena atual com um olhar mais otimista. “A palavra ‘união’ vem se fortalecendo. União entre o surf e o skate. Entre a galera que veio de fora com a nativada”. Para ele, os primeiros migrantes a habitar o Rio Tavares contribuíram tanto para o desenvolvimento da comunidade nativa que hoje são tratados como locais pela maioria.
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A VOLTA DO BOWL
Em meados dos anos 90, a identidade de ícone do concreto de Léo Kakinho estava prestes a se revelar. Foi quando Adriano e Eduardo Dias, irmãos e fundadores da Drop Dead, mudaram-se para Floripa. Em 1994, fizeram um campeonato de mini ramp na Praia do Santinho. Três anos depois, bancaram o evento que, conforme Léo, representou “o start mesmo. Quando o skate começou a aparecer”. Na Praia Mole, eles construíram um half pipe para receber uma etapa do Circuito Brasileiro.
Oscar “Mad” Edinger estava presente no campeonato na Praia Mole. Nessa época, Mad já morava em Floripa e ajudou a construir a pista. Ele notou, ali, que as barreiras entre surfistas e skatistas estavam prestes a ser quebradas. Altas ondas rolavam em frente ao half pipe público. “A galera do surf andando de skate. A galera do skate surfando. Era uma troca de energia intensa”, lembra.
Em paralelo à construção da pista da Praia Mole, surgiu o que ficou conhecido primeiramente como “Bowl do Léo”, no terreno de Rafael Bandarra, “para terem o que fazer nos dias de flat”. Essa pista foi uma das responsáveis por consolidar a volta do bowl no Brasil – modalidade que teve como berço no país a cidade de Guaratinguetá e voltava a ganhar força no exterior.
André tinha uma mini ramp em sua casa e o filho Pedro, com 2 anos, já começava a andar de skate. Léo insistiu na ideia de construir um bowl, cada um dos três contribuiu com a grana que podia e o projeto saiu do papel. Léo tinha uma noção básica de como construir a pista – adquirida, em parte, com o irmão Guilherme Barbosa, que construiu o quadribanks Vert in Roça, em Guaratinguetá –, mas ela demorou quase um ano para ficar pronta.
“A galera vinha para conhecer o Bowl do Léo”, lembra Rafael. Com isso, muitas pessoas de fora que andavam de skate e pegavam onda mudaram-se para Floripa, com o objetivo de seguir o mesmo estilo de vida: surf, skate, churrasco, cerveja e rock. Na casa de Rafael, festas aconteciam com bastante frequência. “Era um encontro de várias pessoas que queriam o mesmo tipo de vida”, diz o dono da casa.
Em paralelo à construção da pista da Praia Mole, surgiu o que ficou conhecido primeiramente como “Bowl do Léo”, no terreno de Rafael Bandarra. Essa pista foi uma das responsáveis por consolidar a volta do bowl no Brasil – modalidade que teve como berço no país a cidade de Guaratinguetá e voltava a ganhar força no exterior.
Para Binho Nunes, a música foi o fator principal de união e consolidação do movimento. Igor Cavalera (Sepultura), Marcelo D2, Digão e até caras dos Foo Fighters. Esses eram nomes fortes que marcaram as jam sessions, sem contar a apresentação de surfistas e skatistas que fazem um som. Contudo, conforme a vizinhança do Rio Tavares crescia, o volume da música dos encontros na casa de Rafael teve que diminuir.
O movimento atingia tal visibilidade em meados de 2000 que André achou necessário encará-lo com outro olhar, para que eles deixassem um legado. “O que estávamos fazendo era bem diferente e poderia render um bom trabalho”, conta André. Ele e Pedro Barros moraram na Austrália de 2003 a 2006. Além de surfar todo dia, o garoto se destacava nas competições de skate. Enquanto isso, de 2003 para 2004, a casa de Rafael, padrinho de Pedro, transformou-se na pousada Hi Adventure. André lembra: “Tudo era completamente isolado, sem perspectiva. Foi quando construí o half na minha casa e reformamos a pista da pousada que vimos todo o potencial à nossa frente”.
A pista passou por três reformas para deixá-la no mesmo nível dos bowls em que Pedrinho competiria mundo afora. Começou com coping de ferro, porque o valor do coping block – blocos de concreto, o mesmo usado nas bordas de piscinas – era inviável diante do baixo orçamento. Na segunda reforma, em 2007, colocaram coping block em um pedaço dela. Depois, substituíram todos os copings pelos de concreto que compraram da Ultra, renomada piscina de São Paulo, de Cristiano Mateus, e acrescentaram a concha menor – a parte pequena e mais rasa da pista. Na última, em 2012, substituíram o oververt por um corner grande. Na pousada, ainda há uma mini ramp extensa e de alto nível. Toda a cena do skate, encorpada pela infraestrutura de nível internacional e com a explosão de Pedro Barros, atraiu para a ilha lendas do carrinho como Jeff Grosso, Christian Hosoi, Omar Hassan, Duane Peters e Jake Phelps.
Quem ensinava Pedrinho a andar de skate era Léo Kakinho, que tempos atrás fora referência para atletas como Bob Burnquist. Léo conta que nunca pensou no retorno que os treinamentos teriam, mas percebia o potencial – assim como viu em seu filho Vi Kakinho e em Felipe “Foguinho” – pela dedicação do garoto ao esporte. “Aconteceu tudo junto. Enquanto as pistas melhoravam, eles foram evoluindo”, observa. Pedro sente claramente a influência de Léo no estilo de andar e no jeito de manobrar. Ele lembra que, enquanto só tentava dar aéreo e manobras de giro, o “amigo chato” o convencia a andar do “jeito de verdade”, com carvings e explorando mais as bordas.
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R.T.M.F.
A cena formada no Rio Tavares ganhou nome em 2006. Mark, um californiano dos tempos dos Z-Boys e membro do clube Orange County Mother Fuckers, tinha uma casa no bairro. Fernanda, sua caseira, formava uma banda com Binho Nunes. A dupla resolveu levá-lo na Hi Adventure. “O cara ficou louco com a cena”, conta Binho. Um ano depois, Mark apareceu com camisetas e bonés com a sigla RTMF (Rio Tavares Mother Fuckers). Binho lembra bem desse momento: “Ele disse: a parada tem a mesma pegada que a nossa. Surf, skate e rock and roll. Somos underground até hoje”. Binho considera que o movimento de 17 anos conseguiu se manter underground. “Dei uma acalmada porque o skate está gigante aqui. Prefiro manter minhas raízes na música, ficar tranquilo”, conta o surfista de 37 anos, que não se considera parte de grupos, e sim um cidadão do mundo.
Mas, afinal, o que significa ser um RTMF? Pedro Barros responde: “Isso não passa de uma comunidade de pessoas que se respeitam muito, têm carinho um pelo outro e um estilo de vida em comum”. Pedro está na Hi Adventure, na terça-feira à noite, dia da sessão Old School, um encontro semanal de pessoas que vivem o movimento RTMF. O bowl fica disponível apenas para os mais velhos e a nova geração divide seu tempo entre assistir a galera andando, a mesa de sinuca e o jantar, a cada semana a cargo de um dos membros do grupo.
Esses encontros frequentes, para André, diferenciam o RTMF de outros movimentos ao redor do Brasil e do mundo, porque geram amizade e convivência intensas. “Somos um grupo evoluído no sentido de paciência, aceitação das diferenças, de perdoar fácil. Todo mundo respeita o problema, a situação e o bem de cada um”, reforça André. Marcelo Cathcart admira essa característica dos RTMF e, segundo ele, a maioria dos nativos possui a mesma concepção, “mas tem um pessoal aqui da praia que não aceita. O pessoal chegou tomando conta do espaço e eles ficaram meio revoltados”. Marcelo sempre morou no Riozinho e conheceu André quando este se tornou seu vizinho. Em Floripa, já rodaram o litoral em busca de ondas sem crowd. Na Austrália, Marcelo hospedou-se na casa de André.
Mas, afinal, o que significa ser um RTMF? Pedro Barros responde: “Isso não passa de uma comunidade de pessoas que se respeitam muito, têm carinho um pelo outro e um estilo de vida em comum”.
Há ainda os que consideram o RTMF um grupo fechado, cujas pistas são de difícil acesso para a comunidade. Rafael entende que hoje é bem mais difícil mesmo. Escolas de skate no período da tarde e eventos à noite, como a sessão Old School, preenchem a agenda da Hi Adventure, sem contar os períodos exclusivos para hóspedes da pousada. “Realmente é muito mais restritivo, mas abrimos de sexta, sábado e domingo, a partir das 4 horas da tarde”, explica o gaúcho de 41 anos. No fim de semana, o bowl fica aberto até às 10 da noite e a mini ramp, até 8 horas.
Já Pedro diz que o bowl da sua casa fica aberto depois do almoço e que basta entrar em contato com alguém do RTMF para fazer a sessão. “Se for na pousada, com certeza vai encontrar alguém”, diz. Ele acrescenta que o movimento não é uma gangue que quer posar de durões, “é uma galera que sempre vai estar de braços abertos para receber pessoas em casa”. Furto e desrespeito, no entanto, são situações inaceitáveis.
Guga Arruda, que acompanha a cena desde o começo e teve André como primeiro patrocinador de surf (André era representante da Redley), a considera autêntica, apesar de a Califórnia ter sido a precursora do skate em piscinas. Para o nativo de 40 anos, o valor do movimento da Califa foi ter nascido uma modalidade (bowl), enquanto no Rio Tavares representa a união inédita no Brasil entre os estilos de vida dos skatistas e dos surfistas.
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CONCRETO E MAR
“O surfista vivia apenas no mundo do surf, até que começou a se tornar um esporte mais urbanizado, como ocorreu na Califórnia e em Sydney, quando as cidades cresceram”, acredita Kakinho. Ele considera que a nova geração do surf e do skate, com manobras cada vez mais parecidas, contribuiu para que a barreira entre os dois esportes se quebrasse gradualmente. “Agora surf e skate são uma coisa só. A música, o comportamento, o jeito de se vestir, a veia de criação… É a mesma cultura.”
Binho Nunes sentiu que os dois estilos se uniram ainda mais no Brasil em 2004. Com apoio da Drop Dead, ele juntou surf, skate e música na Barca do Binho, projeto que durou até 2007 e reuniu desde surfistas como Tiago Bianchini, Marcos Sifú e Marcelo Trekinho a skatistas como Léo Kakinho, Oscar Mad, Wagner Ramos e Pedro Barros. Uma das viagens foi percorrer de ônibus de Porto Alegre a Ubatuba. “Surfista curtia skate, mas skatista sempre tirava surfista. Depois da viagem, virou uma coisa mais de irmandade. Ficou na paz”, observa Binho.
Um skatista fissurado por surf é Pedro Barros. No domingo, 6 de abril, Guga Arruda adiantou: “É muito provável que amanhã cedo, sem avisar, tu veja ele na água dando um aéreo, possivelmente rodando”. Naquele dia, Pedro encararia as finais do Skate Generation e a festa de encerramento do campeonato. Mesmo cansado, na manhã seguinte ele estava no Pico da Cruz, para surfar com sua triquilha azul, 5’1’’. As pequenas quilhas laterais atrapalhavam, mas mesmo assim ele conseguiu decolar. No dia seguinte, ele se lembrou da sessão, empolgado: “Tava foda. A prancha jogava de lado no drop. Mas consegui jogar um aéreo… Caí no flat e explodi junto”. Por indicação do pai, ele sempre buscou aprender um pouco mais sobre a linha da onda, em vez de priorizar o jogo aéreo que tanto domina no skate. Para Pedro, surfar em beachbreak ajuda a raciocinar mais rápido sobre que tipo de manobra aplicar. Ou seja, na hora de passar para o bowl, não precisa pensar na volta inteira antes de dropar.
Já o skate, no olhar de Guga Arruda, possibilita “antecipar a chance de fazer manobras aéreas, de surfar radical, de trabalhar o estilo, porque dentro da água é muito difícil”. Por isso, ele acredita que a melhor escola de surf é o skate. Para Binho, o skate ajudou o surf a ter “mais modernidade e se renovar”. Entre os surfistas da ilha que dominam o carrinho está o freesurfer Ricardo Wendhausen, um dos mais progressivos do país.
Se por um lado há consenso de que skate e surf contribuem um para o outro, as opiniões dividem-se a respeito das influências que a aproximação dos dois esportes tiveram no outside. Nas sessões em bowl e mini ramp, a união entre os skatistas é explícita. Cada um vibra com as manobras do outro. Já no surf, ainda há agressividade. “Cada hora tem mais gente, mais modalidades, mais esportes. Então fica uma guerra. Muita gente para pouco espaço com boas ondas”, analisa Binho.
– Guga Arruda:
Já o skate, no olhar de Guga Arruda, possibilita “antecipar a chance de fazer manobras aéreas, de surfar radical, de trabalhar o estilo, porque dentro da água é muito difícil”. Por isso, ele acredita que a melhor escola de surf é o skate.
Nem mesmo os skatistas, acostumados com a união nos bowls, pistas e rampas, estão livres do clima competitivo no lineup. Como observa André, o skatista entra automaticamente na cultura do surf e torna-se um pouco egoísta. “É aquela história: ele entra na roda. Ou vai seguir essa roda, ou vai ficar sem pegar onda.”
Agora, quando o assunto no surf é ser competidor, a diferença entre o ritmo de vida do surfista para o do skatista aumenta. É o caso de Yago Dora, que neste ano almeja somar pontos no WQS para que, em 2015, possa disputar etapas Primes. No Pico da Cruz, ele saía do mar por volta das 11h30, bastante cansado. Ir à festa do campeonato, na noite anterior, não lhe fez bem. Yago é do tipo que prefere dormir logo, não gosta muito de sair à noite, porque sua “hora preferida é acordar cedo e ir surfar”. Para o curitibano radicado em Floripa desde os 4 anos, o impacto de um rolê à noite interfere mais no surf. “No skate, não precisa passar a arrebentação, remar e achar uma onda. A pista está parada, então uma hora o cara acerta a manobra. No surf, o cara não se dá bem se não estiver 100%”. Leandro Dora, pai e treinador de Yago, concorda com o pensamento do filho e acredita que o surf e o skate só não são ainda mais unidos devido a essa diferença na rotina de atletas competidores, principalmente em Floripa, cujas melhores condições de vento acontecem de manhã, antes das 10 horas.
Apesar das diferenças na rotina, Tuco, filho de Guga Arruda, de 9 anos, já traçou o objetivo para a carreira: ser surfista e skatista profissional. E, pelo visto, está no caminho certo. Ele treina com Guga no mar e com Oscar Mad e Affonso Muggiati nas aulas da Hi Adventure. Além disso, encara as pistas de Pedro Barros e tem uma mini ramp no quintal de casa. No surf, o garoto treina os fundamentos básicos e descola rasgadas e batidas e tenta uns aéreos. Já no skate, lança voos com rotação em rampas altas. Quem sabe, em alguns anos, nasça um novo estilo de vida: o do surfista e skatista profissional.
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INOVAÇÃO INDEPENDENTE
Floripa é uma das cidades com mais fábricas de prancha de fundo de quintal. Com a alta demanda, para Guga o mercado está saturado de tanta gente produzindo prancha igual, o que gera uma “competição doentia por preço”. Quando resolveu ser shaper, no início dos anos 2000, ele colocou na cabeça: “Preciso trabalhar com algo diferenciado”.
Quem deu o empurrão que faltava para que Guga shapeasse foi seu antigo patrocinador, Avelino Bastos, da Tropical Brasil. No momento em que Guga assumiu a vontade de ser shaper, os dois foram para a oficina de Avelino, que ensinou a prática e a teoria de todo o processo. Então, Guga montou uma fabriqueta e shapeou algumas pranchas. De quebra, ganhou dois campeonatos nacionais seguidos com pranchas que fez.
Há sete anos, Guga criou uma técnica de fazer prancha sem longarina, modelada e com materiais nobres – carbono, Kevlar e madeira – chamada Powerlight. Tudo começou com a termomoldagem, método na época em desenvolvimento pelo shaper inovador Jair Fernandes “Machucho”, nativo da ilha. Guga interessou-se pelo processo e desenvolveu um método de construção que permite replicar pranchas, cuja patente divide com Machucho.
“Quando a gente tirou a longarina, a prancha começou a flexionar. Com o carbono, ela fica mais rígida. E com o Kevlar, se torna bem flexível”, explica Guga. A flexibilidade refere-se à curva que a prancha faz quando o surfista está em uma onda – não é o rocker. A prancha ganha uma curvatura móvel e versátil, que se adapta conforme a pressão colocada pelo surfista e a condição da onda. Ou seja, fica mais leve, resistente e flexível. Nesse processo, o trabalho artesanal fica em segundo plano. “A máquina faz o serviço e um backshaper alisa”, conta ele, que produz cerca de 100 pranchas ao mês.
Mas a arte nas pranchas não foi esquecida na ilha. A 15 quilômetros do Rio Tavares, em Trindade, mora Felipe Siebert, um nativo que se inspirou nos movimentos da Califórnia e da Austrália para criar suas pranchas retrô de madeira de alta performance. Felipe criou sua marca em 2007, com pranchões e fishes de madeira. Hoje, também faz skates, handplanes, balance boards e roupas, sempre seguindo uma linha retrô. As madeiras compradas em Santa Catarina e no Paraná variam entre as espécies marupá, figueira, sumaúma e cedro-rosa, e as pranchas são serradas e lapidadas com o cuidado digno de um artesão.
Por falar em arte, a pintura ocupa um espaço grande na vida de muitos surfistas, como Cassio Sanchez, Daniel Barcellos e Igor Gouveia. Também é o caso, por exemplo, de Paulo Govêa, artista plástico da ilha radicado em Nova York. Foi Paulo quem incentivou Binho Nunes a mergulhar no mundo das telas e realizar as primeiras exposições.
Filho de artistas plásticos, Binho focou-se na pintura quando parou de competir, em 2000. No começo, encarava apenas como hobby, mas hoje a arte adquiriu maior importância. “É uma terapia animal”, diz. Com rock tocando nos fones de ouvido, Binho pinta quadros com temas de cachorros. Isso porque, em meados dos anos 2000, havia uma enorme quantidade de cachorros abandonados nas ruas do bairro – até por isso o lugar era conhecido como “uma legítima Dogtown”.
Já na cena dos filmmakers, os talentos que surgiram em Floripa têm um ponto em comum: a originalidade. Cada cinegrafista possui um olhar bem autêntico sobre o que filma, como é facilmente visto nas produções de Pablo Aguiar, Pietro França, Loïc Wirth, Fábio Nunes e Marcos Feijó. Pietro participou da edição de Fé em Deus e Pé na Tábua, que retrata a união entre surf, skate e música presente em Floripa. Com uma proposta parecida, Marcos e Fábio dirigiram Barca do Binho. Já Pablo e Loïc gostam de puxar suas produções para um lado mais reflexivo, como é visto em Delirium e Intentio.
Para Loïc, a diferença do cenário de filmmakers em Floripa é que “existe uma cumplicidade muito grande. Não tem o mínimo senso de competição”. E Loïc vivenciou isso desde o início da carreira. Ele sempre se interessou pelo lado da cinegrafia. Aos 19 anos, mudou-se para a França, onde conheceu Pietro. “Ele me incentivou a filmar como ninguém – me emprestou a câmera dele, o que poucas pessoas fariam”, conta Loïc. Um tempo depois, viajou de carona até o Marrocos. Lá, encontrou Pablo por acaso, e então eles se conheceram pessoalmente. “Falei para ele que queria filmar. Em vez de ter qualquer sentimento de competição, ele me deu a câmera e uns toques, sempre ajudou e acreditou em mim”.
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A LUTA POR FLORIPA
Quando Loïc Wirth era pequeno, seu pai trabalhava com trekking escolar. Buscava crianças nas escolas para levá-las às trilhas da ilha, onde ensinava sobre o ecossistema e o impacto causado pelos seres humanos. Ao acompanhar uma dessas excursões, Loïc se impressionou com o interesse das crianças: “Podemos fazer muita diferença. Essas crianças são o futuro e estão prontas para aprender”.
Essas crianças têm em quem se espelhar na luta pela preservação ambiental. Preocupação com a natureza é algo característico de nativos de Floripa, e esse espírito também é incorporado por moradores que vêm de fora. Com isso, diversas ONGs ambientais formaram-se na ilha, como a S.O.S. Moçambique e a Eu Luto por Floripa, encabeçada por André e Pedro Barros.
Na terça-feira à noite, na pousada Hi Adventure, Pedro estava exausto. O cansaço acumulado nos últimos dias era evidente. A voz se arrastava enquanto ele escorregava pelo banco. Mas a postura mudou radicalmente ao falar sobre a situação político-ambiental da ilha. “Floripa tem um potencial econômico muito grande, então os políticos acabam olhando mais isso do que os impactos negativos”, analisa Pedro. “O problema é que, o que uma cidade normal cresce em 10 anos, Floripa cresce em dois. Se não tiver um planejamento muito bem feito, a cidade vai afundar”.
O principal desafio agora é conter a especulação imobiliária, que atrai cada vez mais construções à ilha. Um passo importante é a participação da população no novo Plano Diretor. As emendas para o novo Plano haviam sido propostas no final de 2013. Com apenas um mês para analisá-las, a Câmara dos Vereadores convocou a votação para 30 de dezembro. O Plano foi aprovado, mas por pouco tempo. Eu Luto por Floripa e outras organizações entraram na justiça, junto com o Ministério Público, e provaram que tal decisão fora inconstitucional. “Eles não podiam votar aquelas emendas sem ter tempo hábil para entendê-las”, argumenta André.
– Pedro Barros:
“Floripa tem um potencial econômico muito grande, então os políticos acabam olhando mais isso do que os impactos negativos. O problema é que, o que uma cidade normal cresce em 10 anos, Floripa cresce em dois. Se não tiver um planejamento muito bem feito, a cidade vai afundar.”
Além do aumento das construções no Campeche, Marcelo Cathcart está preocupado com o tratamento de esgoto proposto pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento. Um emissário de 3 km sairia do Pico da Cruz, no Rio Tavares, e despejaria o esgoto no oceano. No Riozinho, seriam tratados os dejetos de praias mais ao sul, como Armação, Matadeiro, Pântano do Sul e Ribeirão da Ilha. “Seria praticamente um esgoto a céu aberto”, reclama.
O que tem incomodado André é observar a ausência das pessoas ou a falta de informação nos atos do Eu Luto por Floripa. Mesmo assim, ele acredita que pode fazer a diferença. “Óbvio que minhas esperanças sempre foram baixas na questão política, mas ela existe. Se essas poucas pessoas que são ativas forem fortes o suficiente, elas podem mudar”.
A luta não se limita às questões ambientais. Em Floripa, conforme o movimento do RTMF ganhava força, novas piscinas de alto nível começaram a ser construídas para além do Rio Tavares, como o Konig e o Sushi Pool. Hoje em dia é fácil encontrar bowls de qualidade ao andar pela ilha. Mas nenhum deles é público. E essa é a próxima missão para o skate evoluir na ilha.
Em parceria com a Spot RTMF, a prefeitura de Florianópolis vai construir e reformar pistas públicas de skate. Spot é uma empresa do Rio Grande do Sul, com expertise para construir skate parks. Já o RTMF, com Léo Kakinho, Guilherme Barbosa, André e Pedro Barros, fica encarregado de fazer os bowls.
“Floripa hoje é a cidade do skate. Nas ruas, nas quadras, sempre tem alguém com um skate na mão. E temos muitas pistas para arrumar”, observa Guilherme Barbosa. O skate park da Costeira será o primeiro a reformar. Ele fica na Costeira do Pirajubaé e será palco Skate Generation de 2015. “Ao mesmo tempo em que servirá para um evento de grande porte, será boa para a galera local evoluir como um profissional”, acredita. Na pista, será construído um bowl e uma flow area com vários bumps e transições para todos os níveis de skatistas. Outras pistas aprovadas foram a do Jardim Atlântico e a de Figueirense.
Com a modernização das pistas, surgirão novos projetos, ainda mais adequados ao skate praticado hoje em dia. É o que acredita Léo Kakinho: “Terão mais adeptos, vai fomentar mais o esporte. Isso é bom para nós mesmos, porque toda a indústria começará a funcionar aqui. Então, aparece mais apoio e isso vira um ciclo”.
Este é um momento importante para o futuro da cena de skate e surf que se formou no bairro do Rio Tavares e espalhou-se por Floripa. Como boa parte das pessoas envolvidas no movimento acredita, agora os dois esportes representam uma única cultura. Portanto, com o surgimento de pistas públicas de qualidade, não é apenas o skate que sairá ganhando. Isso também trará benefícios para a nova geração de surfistas. Mas o movimento, quando adquirir proporções ainda maiores, perderá a originalidade? Nem Binho Nunes, um dos mais precavidos quando o assunto é a explosão de movimentos do underground, enxerga essa possibilidade: “A galera aqui tem o pé no chão e não vai dar esse mole com um negócio tão legal que se formou. Não vai perder a essência tão cedo”.
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